5/27/2011

Indicadores de uma Escola Moderna... Um "Checklist"




Fredric M. Litto
School of the Future, University of São Paulo
Brazilian Association for Distance Education
Email:
info@futuro.usp.br


Desde que venho focalizando as minhas atenções profissionais em certos aspectos da questão da Educação nos mundos contemporâneos e futuro (isto é, uns bons doze anos), tenho recebido freqüentes pedidos para "empacotar" num produto as idéias mais "quentes" sobre a pedagogia, fazendo assim algo padronizável ou até franchaizável. Nunca aceitei propostas de padronização por acreditar que cada instituição educacional, seja ela uma escolinha ou uma universidade, tem a obrigação de elaborar e executar sua própria configuração, ou sua proposta pedagógica.

Fico preocupado quando vejo a crescente adoção, por escolas brasileiras, de pacotes didáticos completos e padronizados preparados por empresas distantes (mesmo quando elas têm o nome de escola). Sinto que o fenômeno representa uma certa macdonaldização*da educação, que acaba obrigando o professor que atua numa escola que adota o pacote se tornar um balconista, em vez de um mestre-cuca. Não faz sentido exigir um diploma de curso superior de um professor que não tenha competência ou oportunidade para desenhar um plano de aula ou um currículo. Se acreditamos que o professor é a peça fundamental no relacionamento com o aluno e com sua aquisição das capacitações necessárias para a aprendizagem, temos que preservar o espaço criativo do professor, cada professor, cada grupo de professores, em cada escola ou universidade. Do mesmo jeito que aceitamos a idéia de que cada ser humano tem um estilo personalizado de aprender, temos que admitir que cada grupo de professores que compõe o corpo docente de uma entidade educacional tem o direito e a obrigação de fazer o plano arquitetônico da aprendizagem da sua instituição.

Como analisar a configuração pedagógica de uma instituição educacional? Bem, depende, porque assim como é desejável ter propostas diferenciadas de instituições diferentes na mesma cidade, temos de admitir que existem maneiras diferentes de analisar a forma pela qual cada instituição conduz o processo ensino/aprendizagem. Pais procurando uma escola para o seu filho, um adulto procurando um curso de mestrado para aumentar sua qualificação, uma fundação querendo premiar entidades educacionais com propostas inovadoras, um estudioso tentando observar tendências no processo ensino/aprendizagem--todos eles têm abordagens analíticas diferentes.

Como estudioso interessado no aperfeiçoamento do processo ensino/aprendizagem tendo em vista as mudanças que vêem ocorrendo nas últimas décadas nas tecnologias disponíveis para facilitar e aperfeiçoar o trabalho, tive que fazer, recentemente, a minha própria lista de características que considero importantes ao examinar uma escola ou universidade no tocante a seu ambiente de aprendizagem.A motivação, ao fazer essa lista, não foi a de criar uma "receita", ou um conjunto de práticas capazes de garantir sucesso.Foi o desejo de colocar numa lista, sem ordem hierárquica ou prioritária, algumas características que tenho observado nos últimos anos, não apenas em escolas brasileiras e do exterior, mas também encontradas na literatura especializada e em conclaves de profissionais.Duvido que qualquer instituição possa ou deva tentar implementar todos esses indicadores; da mesma forma, o grau ou intensidade de aplicação de cada conceito, sempre vai variar de uma instituição para outra.Esta lista, pelo menos, serve como um "checklist", uma relação de pontos de checagem, que induz a reflexão sobre alguns dos elementos importantes nas discussões sobre a modernização da Educação hoje. A lista poderia ter sido limitada a 8 itens, ou estendida a 20 itens--e assim mesmo em dois meses talvez eu queira subtrair ou adicionar algo, mas, ela serve para mim como um ponto de partida na discussão dos elementos com que eu e os meus colegas lidamos quase todos os dias.

INDICADORES DE UM PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM MODERNA
A aprendizagem é organizada "sob medida" para cada aluno; isto é, o aluno é responsável por muitas das decisões que envolvem sua própria educação e a instituição maximiza o atendimento individual.
1.Há respeito pelos estilos individuais de aprendizagem de cada aluno, sem nenhuma tentativa de forçar os alunos a demonstrar o mesmo desempenho em todas as áreas acadêmicas.

2.O "sistema" didático encoraja aprendizagem "profunda" (compreensão consolidada das matérias, permitindo transferência de conceitos de um domínio para outro) em vez de aprendizagem "de superfície" (memorização de fatos).

3.Consegue um equilíbrio entre a aquisição de competências necessárias para sobrevivência no mundo moderno (identificar problemas, achar informação, filtrar informação, tomar decisões, comunicar com eficácia) e a compreensão profunda de certos domínios de conhecimento estudados.

4.Fornece ao aluno uma visão transdisciplinar do mundo (ver e compreender as interrelações entre as coisas), pela maneira de estudar as matérias.

5.Mudança do papel do professor, que em vez de ser responsável pela transferência de conhecimento, passa a ser responsável pelo "desenho" das atividades a serem realizadas pelos alunos, os quais assumem um papel ativo e não passivo no desenvolvimento da sua aprendizagem.

6.Aprendizagem realizada não pelo "decoreba", mas sim pela participação em projetos organizados em torno de problemas e que levem a "descobertas" pelos alunos de conhecimentos novos.

7.Apresentação de informação didática não apenas em forma textual, mas também em forma visual e sonora...multimídia

8.Ênfase no trabalho realizado em colaboração com colegas locais e à distância; reconhecimento do fato de que em um mundo cada vez mais complexo, é necessário trabalhar em equipe para poder solucionar problemas.

9.Ambientes de aprendizagem e de trabalho reproduzem suas qualidades nos produtos resultantes: ambientes fragmentados e isolados tendem a permitir a geração de produtos fragmentados e isolados.

10. Ambientes de aprendizagem e de trabalho devem ser ricos em apoios tecnológicos de todos os tipos, porque tais apoios permitem formas de aquisição de conhecimento mais ricas e mais eficazes do que as formas tradicionais.

11. Poucas provas ou exames, porque esses acabam testando apenas a capacidade de memorização do aluno; a melhor maneira de averiguar o progresso do aluno é pela manutenção de um portfolio de trabalhos onde cada aluno guarda sua produção, que é avaliada de tempos em tempos. Se é obrigatório ter um exame, então que seja um que dê informação ao aluno, solicitando que ela ou ela demonstre sua criatividade e segurança com o conteúdo reorganizando-o, comentando-o, aplicando-o em uma nova circunstância.


* Usei este termo pela primeira vez num artigo de fevereiro de 2000 e ao que parece, o conceito está se popularizando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela sua participação!

Precisa de Ajuda?

ESTUDE A PALAVRA DE DEUS AGORA!

ESTUDE A PALAVRA DE DEUS AGORA!
Cursos e Estudos Bíblicos Gratuítos

Mais Postagens: